20 de janeiro de 2006

Ah, o sonho...

Hoje eu tive um sonho / e foi o mais bonito / que eu sonhei em toda a minha vida /

Nah, né nada disso. Mas sim, tive um sonho. Foi bonito? Ah, foi. Fez meu coração bater como há um tempo não batia. Nem contem pra patroa porque ela vai ficar braba. Prometam que vão guardar segredo. Prometam! Humpf. Tá bom então, vou contar.

Estava eu ao ar livre, acho que numa rua, observando o movimento. Sentia nos braços e no rosto uma brisa fresca, típica do nosso verão. De repente encontrei com um amigo, que por sinal há muito tempo não via. Devíamos ter combinado, sei lá. Troco umas palavras com ele, pergunto como vai a vida. Num desvio de olhar, me espanto ao dar de cara com ela perto de nós, a alguns metros de distância. Ela, incrivelmente, há muito povoa meus pensamentos quando estou acordado, pensando na vida, à toa. Já esbarrei com ela algumas vezes pela rua, mas ela sempre vai embora sem me notar, e me deixa lá, sonhando acordado. “Ué, será que ele tá com ela?”, penso. Não, não é possível. Olhei pra ele, e pude ver um sorriso de canto de boca. Safado. Ele já tinha notado minha surpresa, e parecia divertir-se com isso. Perguntei logo de uma vez:

− O que cê tá fazendo com ela?
− Heim? Como assim? Tô com ela agora. Cê não sabia?

Cínico. Como é que pode esse cara ser assim? Cada dia ele tá com uma melhor do que a outra!

− Que beleza heim...
− Pois é, rapaz. E vou te contar. É uma delícia. Quer experimentar?

Ah, pára tudo. Eu experimentar? Não, melhor não. Nem sei se meu coração agüenta. Além do mais, se eu chegar perto demais, posso ficar atracado nela o resto da vida.

− Cê tá doido? Como é que você me pergunta um troço desse? Cê num fica com ciúmes não?
− Que nada, rapaz! A vida é curta. Experimenta lá, vé se você gosta!
− ...
− Vai lá. Relaxa, fica tranqüilo. E aproveita.

A situação podia parecer estranha, mas é que ele já tinha feito isso por mim antes. E ele realmente parecia gostar disso. Vai entender. Melhor pra mim então, ué. Diante da possibilidade de tê-la em minhas mãos, minhas pernas começaram a tremer. É uma vergonha, eu sei. Mas fazer o quê? Caras inexperientes reagem assim mesmo. Além do mais, não é todo dia que se realiza um sonho. Respirei fundo pra organizar os pensamentos, tomei coragem, e comecei a andar na direção dela. Antes de eu conseguir dar dois passos, ele me segurou pelo braço, e enquanto enfiava algo no meu bolso, disse:

− Toma, leva isso aqui. Não faça nada sem estar com isso.

Olhei o que era, e logo compreendi. Era óbvio. Voltei meus olhos pra ela, e comecei a andar em sua direção. Eu já estava mais confiante, e a tremedeira foi substituída pela pura ansiedade. Quando estava mais próximo, parei pra observar suas belas formas. Estava meio que de lado, mostrando seu belo perfil, mas ao mesmo tempo olhando para mim. Parecia ter sido esculpida por um ser superior. Um anjo, talvez. As curvas eram suaves, mas demonstravam robustez. Sua cor era linda, realçada pela luz do sol. Olhava pra mim com seus olhos azuis brilhantes, como que me convidando a chegar mais perto. Já não havia mais ninguém a nossa volta. Agora éramos só eu e ela. Me aproximei um pouco mais, e como num passe de mágica, ela se abriu pra mim, como se me convidasse para chegar ainda mais perto. Num instante, já não havia mais distância entre nós, e um segundo depois eu estava totalmente envolvido por ela. Sentia seu cheiro. Música começou a chegar aos nossos ouvidos, como uma preparação para o que viria a seguir. Com um toque do meu dedo, sua cobertura ficou pra trás. Ficamos ambos expostos, totalmente ao sabor do vento. Noutro toque, seu corpo começou a tremer, primeiro suavemente, mas foi aumentando a vibração conforme eu a pressionava. Os sons que ela produzia eram roucos, graves, vigorosos. Me convidavam a ir adiante. Ela também queria mais. Segurei-a com firmeza, mas ao mesmo tempo com delicadeza, me preparando para conduzi-la na nossa aventura. Eu não tinha certeza de como fazê-la se mover, mas tateando com as pontas dos dedos, encontrei os dois lugares que eu suspeitava serem os certos. E ela prontamente reagiu. Parecíamos feitos um para o outro.

O resto do sonho vocês imaginam. Quando acordei, fiquei saboreando as sensações do sonho, triste por ter sido tão curto, mas ao mesmo tempo comecei a nutrir ainda mais o sonho de possuí-la. Se em sonho a experiência foi inacreditável, imagina tê-la em casa, sempre à disposição. Suspirei. Olhei para o lado, e contemplei a face da patroa, que ainda dormia. Ah, como seria bom se ela também estivesse no sonho! Seria simplesmente o paraíso. Nós dois e ela, que se fosse italiana poderia ser chamada de macchina. A macchina. Quando a patroa finalmente acordou, falei:

− Precisamos juntar dinheiro.
− Ãhnn... quê? Juntar dinheiro pra quê?
− Pra comprar um Porsche conversível. E tem que ter câmbio tiptronic.
− Cê bateu com a cabeça?
− Não, sonhei que dirigi um.
− Ah, então continua sonhando.

Quem sabe eu sonho hoje de novo.

Foto extraída do site Olhares

3 comentários:

  1. Uau! Sexy esse post... Gostei muito. Tá certo que eu te conheço bem, então "ela" só podia ser um carro. Eu achava que era uma Ferrari por ser "ela", mas então ficou claro quando você falou da "macchina". Show de bola! Ou melhor... Show de motor! Bjs

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  2. Ótimo texto! Foi bem sensual e você conseguiu segurar bem o "mistério" da máquina.

    Agora, sua sorte é que ela não "veio por cima". hehe

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  3. Muito legal, passei o texto inteiro pensando que foi um sonho erótico! Estou rindo até agora!

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