15 de fevereiro de 2006

Prostituição: profissão?

No post anterior, falei sobre prostituição e marketing. Como não podia deixar de ser, acabei caindo no assunto “Bruna Surfistinha”, e sobre a projeção que ela alcançou na mídia nos últimos três meses. Não sei se vai interessar a todos os três leitores desse blog, mas assim mesmo vou falar um pouco mais sobre a celebridade do momento.

Claro que não me tornei cliente dela, afinal não tinha como pagar pelo serviço (afinal não era nada barato), e além disso ela atendia em Sampa. Ah sim, claro, sou casado também, mas apesar disso me impedir, não impede muita gente. Ah, vamos deixar isso pra lá, porque nem é disso que quero falar. O fato é que me tornei leitor assíduo do blog da moça desde meados de 2004 mais ou menos. Acompanhei os dramas, os planos, as euforias, as angústias, e uns dois ou três namoros que teve antes de encontrar o companheiro atual. Posso dizer que fui um dos primeiros a comprar o livro dela, ainda na primeira edição, na mesma semana que foi lançado. Li e então conheci um pouco mais da menina por trás da Bruna. Descobri que se chamava Raquel Pacheco (Kel pros íntimos), que tinha sido adotada, que foi criada numa família de alta renda. Combinava com os ataques de frescurite que tinha de vez em quando. Saiu de casa por não mais suportar o clima que ela própria construiu por conta das rebeldias típicas de adolescente-filhinha-de-mamãe.

Enfim, cometeu muitos erros, mas manteve a sanidade. Por pouco. Tentou se matar, e olha que ela tentou com convicção. Não foi aquela frescura de tomar remédio, nem de passar navalha nos pulsos pra chamar atenção. Na verdade, acho que quando ela encostou a arma do pai na cabeça (ou na boca ou no queixo, não lembro mais) e apertou o gatilho, ela realmente matou alguma coisa. Por um momento ficou confusa por ainda estar viva, mas quando viu que a arma estava sem balas, acho que ela entendeu que tinha matado a pessoa que era. Desse jeito, só restava renascer.

Saiu de casa e caiu na prostituição acho que pelo dinheiro rápido ao qual estava acostumada. Antes, pedia dinheiro aos pais em troca de obediência. Era rápido e fácil, mas tinha que engolir o orgulho. Depois passou a roubar coisas de casa e vender pra ter o dinheiro. Era rápido e fácil, mas tinha que conviver com o peso na consciência. Na rua, passou a vender não o corpo, porque este continuava sendo dela, mas sim prazer, a quem quisesse pagar. Era rápido, mas muito longe de ser fácil. Assim, reencontrou o caráter e a honestidade que havia perdido há muito. Do mesmo jeito que a prostituição a levou às drogas e quase ao fracasso até decidir livrar-se delas, também a fez amadurecer. Deixou de ser uma adolescente e se tornou uma mulher.

Sempre torci pra que ela desse certo. Por que não? Afinal, ela é uma menina como outra qualquer, que vive sua vida, não faz mal pra ninguém, faz planos de cursar psicologia, sonha em ter filhos. Diz que não se arrepende de nada do que fez, mas sofre por estar longe do contato com a família. É insegura como todos nós. É exatamente como a maioria de nós. Trabalhou uns anos fazendo algo que às vezes gostava, às vezes não. Mas tinha as rédeas da vida nas mãos, e foi atrás do seu sonho.

Imagina se colocarmos a prostituição como sendo “fazer algo do qual não nos orgulhamos em troca do dinheiro”? E quem é que gosta do seu trabalho 100% do tempo? Vai lá. Pergunta por aí. Vai descobrir que é difícil encontrar um motoboy que sonhou viver em cima de uma moto arriscando a vida. Vai descobrir que porteiros de prédio sonhavam em ser administradores, que administradores queriam ser engenheiros. Vai descobrir que advogados gostariam de ser jogadores de futebol, que jogadores de futebol queriam ser médicos, que médicos queriam ser tenistas. Vai descobrir que físicos queriam ser pianistas, e que pianistas queriam ser bailarinas. Pergunte pra mim e vai descobrir que muitas vezes fico frustrado por ter escolhido a carreira segura em detrimento do sonho de pilotar carros. Sabe o que todos temos em comum? A prostituição. Em maior ou menor grau, acabamos nos prostituindo. Vendemos nossa mente, nosso corpo, nossa vida, nossa alma, em função de um dinheiro nem sempre tão necessário. “Mas e nossas famílias, nossos filhos, nossos desejos materiais?” você pergunta. “Não posso largar tudo, emprego, salário fixo, pra correr atrás de um sonho!”, você diz. Tá, eu sei. Eu sei.

Tomara que pelo menos algum de nós consiga um dia tomar as rédeas da própria vida e correr atrás dos seus sonhos. A Raquel tá aí pra servir de exemplo, e torço tanto por ela quanto por mim e por você.

Foto extraída do site Olhares.

4 comentários:

  1. Você está absolutamente certo!

    Estamos nos prostituindo e, o que é pior: sem prazer algum. Pior ainda: as empresas nos f**** sem nem usar camisinha!

    Termos nossa vida de volta é difícil por que nosso cafetão (impostos, saúde, etc) cobra muito caro e não nos deixa livres.

    O importante é não desistir nunca. Afinal, a esperança é a última que morre. Uma hora ela morre, claro...mas é a última! (isso quer dizer que eu vou morrer antes dela???).Hum.

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  2. Pode ser que você tenha razão e eu não tenha gostado do blog dela porque é uma coisa muito besta, parece aquele blog de menininhas que chamam as amigas de "miguxas". Pode ser que ter acompanhado a história dela traga mais compaixão pelos seus sonhos e projetos. Mas não consigo simpatizar pela tal e sua história de "pobre menina rica". O hype da mídia em torno de alguém sem talento e sem muito a acrescentar é algo que me incomoda muito.

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  3. Também uso esta expressao quando me refiro a um trabalho que nao gosto: "Vou lá vender meu corpinho" ou entao "Vou me prostituir" ou mesmo o "Relaxa e goza, vai!". Esta era uma piada muito frequente entre meus colegas de faculdade!

    Acho que eu odiaria ser prostituta, agüentar bafos, sovacos, bigodes, barrigonas, taras e fetiches de pessoas que muitas vezes sao mesquinhas, desumanas, malvadas, prepotentes! Sempre imagino quanta nojeira estas mulheres nao tem que aguentar! Nao é à toa que elas caem nas drogas e no alcoolismo, só chapada para suportar certas coisas e conseguir encontrar um pouco de prazer.

    Enfim, meu respeito à estas mulheres!

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  4. harrysam11:15 AM

    desculpa, mas viver sem sonhos... viver sem ideais? pode parecer besteira e até mesmo mentira, mas nunca me vendi, por dinehiro ou por facilidade ou o que quer que seja que as pessoas se vendão, eu trabalho com o que gosto e que sempre gostei, com criação e arte, desenhos e produção grafica e ainda administro a clinica de minha esposa em rasão do sonho dela, e do companheirismo... comcordo com seu texto, mas discordo das pessoas que se prostituem... mais uma vez pode parecer besteira, mas eu acompanho a mais de 8 anos um desenho japones chamado One piece, onde essa questão do senho é levada muito a serio... principalmente a coragem de largar tudo para viver um sonho, e levar uma vida sem arrependimentos... por isso estou escrevendo me arrependeria se não comenta-se, pois parei para ler (coisa que não costumo fazer) seu blog, enquanto procurava na net referencia de propagandas de marketing... e vi que assim como muitos, vc não tem corrido atras do seu sonho... por favor... a vida sem sonhos, sem objetivos, não é vida.... eu tenho experiencia com isso, tenho um irmão que casou com uma prostituta que viaja para suiça para trabalhar, e hj, voltou para casa dos pais como uma avestrus que ao primeiro sinal de encrenca entra em crise e se esconde, em função do streese emocional que teve durante 5 anos de drogas sexo e prostituição... que a dele era maior que a dela, pois ela vendia prazer para seus clienetes, e eu nem sei o que ele vendia para ela... e hj to tentando mostrar a ele que podemos seguir nossos sonhos e viver na realidade captalista, é só tentar e ter determinação, é gritar sem medo das respostas do mundo, que eu vou ser o rei dos piratas (se ler o one piece, ou assistir vai entender a frase), pois repito a vida sem sonhos não é vida... então sonhe, e se der, tente pilotar carros, mesmo que seja um kart por meia hora toda semana na pistinha ali do outro lado da cidade... vai fazer uma diferença enorme na sua vida... vai por mim, sonhos devem ser buscados, se não, quando morrermos vamos nos arrepender de não termos corrido atras dos sonhos... mesmo vivendo no mundo da prostituição em maior ou menos grau, para garantir o leitinho dos pequenos... vamos sonhar e viver sem arrependimentos, é simples é só seguir o coração sem esitar. obs não repare meus erros de portugues, escrevo rapido e sem tempo de corrigir... =]

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