4 de abril de 2006

Cobras, lagartos e os nossos amigos urubus


Tá achando que eu vou escrever sobre a nova chatice da Globo? Engano seu. Não gosto de ver novela, salvo algumas raras cenas que despertam meu interesse. Prefiro um filme, ou então uma seção de Need For Speed Underground 2 no computador. Mas tô precisando comprar um jogo novo, porque já cheguei no final desse. Duas vezes. E sem usar o volante Microsoft Sidewinder Force Feedback Wheel que comprei antes de casar. Fica muito fácil. Então, jogo no teclado mesmo. Mas por que diabos comprei o volante então?, perguntaria você. Porque o Need For Speed Porsche Unleashed era impossível de jogar no teclado, visto que a física inserida no jogo fazia com que os danados perdessem o controle à qualquer toque nas setinhas. Nesse, só consegui chegar no final usando o volante. Bah, mas não é disso que quero falar.

Queria mesmo era falar sobre o urubu. Não, não o urubu rubro-negro carioca e malandro da Gávea, que por sinal vive uma situação mais negra do que o próprio urubu. Aliás, desse eu não quero nem saber, apesar de continuar me dizendo torcedor. Torcedor de araque, mas torcedor. Mas eu queria era falar do outro urubu, aquele que voa.

Enganado está aquele que pensa que os urubus não servem pra nada. Claro que quando quase atropelei um chegando ao trabalho há alguns meses atrás, esconjurei o coitado, dizendo que ele era um inútil, feio, burro, e ainda por cima suicida. Também pudera. Eu tava na minha, vindo pela estrada, passando próximo ao aterro sanitário da cidade, quando displicentemente um dos urubus que morcegavam no canto da estrada (não por causa do aterro, mas certamente por causa de algum animal morto por ali) levantou vôo em minha direção, quase se chocando contra o vidro. Só tive tempo de puxar o volante pra evitar o pior. Imagine o estrago que seria: vidro quebrado, penas e carne de urubu por todo o estofamento, e tudo salpicado com sangue. Meu e dele. Xinguei mesmo, e fui embora amaldiçoando aquelas criaturas.

Dias atrás, vi uma reportagem que mostrou o quão importantes os urubus são para uma rápida e eficiente decomposição de resíduos orgânicos. Não lembro direito do que era a fábrica, mas o fato é que um resíduo muito problemático, no caso carcaças de frango, eram submetidas à decomposição com a ajuda dos nossos amigos urubus, com o objetivo de gerar adubo. Os resíduos eram depositados em forma de pilha, já misturados com algum componente facilitador. Os urubus então acabam transformando boa parte da matéria, acelerando o processo, e fazendo com que o adubo seja formado com maior rapidez. Com isso a deposição das carcaças, que era um problema para a fábrica, passou a ser outra fonte de renda.

Taí. Depois disso, simpatizei com os bichinhos. Agora, sempre que passo por aquele trecho da estrada perto do lixão, e vejo ao longe aquela nuvem de urubus circundando os montes de lixo da cidade, desejo à eles um bom dia de trabalho, e torço pra que nenhum suicida levante vôo na minha direção.