10 de março de 2006

A incrível capacidade de nos surpreendermos

Estava eu aqui, mergulhada em meus pensamentos sobre temas de tese mirabolantes, quando sou despertada desses devaneios pelo maridão. De fato ele vem me dizer o quanto tem se sentido feliz esses dias por estar envolvido em uma tarefa prazerosa aqui no trabalho. Fiquei feliz por ele e triste por mim. De fato, não tenho tido oportunidade de trabalhar em nada muito prazeroso nos últimos tempos e é inegável o quanto essa ociosidade tem me tornado infeliz. Acho que o ser humano não foi moldado para a ociosidade e me espanto o quanto este falta do que fazer torna os dias longos e aborrecidos. Por sinal, acabei de me lembrar que comprei e não li o livro O ócio criativo do Prof. Domenico De Mais. Seria bom se tivesse lido porque assim poderia enriquecer este texto, mas como não li nada posso acrescentar além de minhas próprias conclusões.

Mas eu não queria falar sobre o ócio não, queria mesmo escrever sobre como as pessoas podem nos surpreender, mesmo quando julgamos que as conhecemos profundamente. Vejam vocês. Depois de dizer que estava feliz, o maridão acrescentou que, como provedor do lar, se sente muito mais tranqüilo e recompensado quando está desenvolvendo alguma atividade importante. Sente-se mais completo. Neste ponto está a razão do meu espantamento: ambos provemos o sustento do lar, mas ainda assim o maridão se sente o provedor da família. Pra deixar claro, não acho que ele estivesse sendo machista ou qualquer coisa do gênero. Tenho certeza de que ele estava simplesmente expressando um sentimento genuíno que permeia a vida dos indivíduos do sexo masculino. Não importa o quanto o mundo evolua e a posição das mulheres tome destaque dentro e fora do ambiente familiar, eles ainda se sentem responsáveis por trazer o mamute pra dentro da caverna.

Nesse ponto comecei a relembrar pequenas observações que já vinha fazendo há algum tempo sobre nosso ambiente profissional e acabei por concluir que, por trabalharmos juntos, a despeito de termos a mesma formação acadêmica, acabo ficando com as tarefas mais “femininas” enquanto o maridão encara os projetos ditos masculinos. Se for preciso fazer uma viajem, o maridão vai porque afinal quem vai cuidar do pequeno? Se for preciso ir a uma reunião importante, o maridão vai e eu sei lá o motivo. Mais uma vez quero esclarecer que não somos nós que definimos quem vai aonde, mas apenas obedecemos ordens superiores, portanto não venham dizer que o maridão é um porco chauvinista. Segundo minha teoria (eu sempre tenho teorias) esses acontecimentos devem-se ao fato de trabalharmos numa instituição envelhecida e petrificada.

Vou confessar que já cheguei até a ficar aborrecida, mas não fico mais não. Algumas vezes me espanto, como aconteceu hoje, mas na maior parte do tempo procuro impor minha presença e capacidade conforme me é possível. Em algumas oportunidades sou obrigada a engolir os sapos apresentados, em outras bato na mesa e digo que não aceito a condição. Tenho fé de quem, ao longo do tempo, acabe ganhando o respeito de superiores e colegas de trabalho. Tenho como consolo o fato de saber que minha condição não é única e que essas cenas se repetem infinitamente em outras empresas. Consola-me ainda o fato de saber que mulherada bota a faca entre os dentes e vai à luta, impondo sua posição, vez por outra.

Vale ainda dizer que não estou levantando bandeiras feministas (mesmo respeitando profundamente o movimento) nem tampouco me sentindo injustiçada. Não quero ser igual aos homens, acho mesmo que somos diferentes em características e qualidades e procuro respeitar as nossas diferenças. Acredito que imagem que as pessoas fazem da gente, pessoalmente ou profissionalmente, é reflexo direto das nossas atitudes. Se eu acho que não tá bom, cabe a mim chegar e lutar por uma situação melhor. Faço isso conforme possível.

Já lá em casa... bem, lá quem manda sou eu! Eu acho...

Um grande bj e até a próxima.


P.S. Este texto foi motivado pelo e escrito no Dia Internacional da Mulher. Achei que, mesmo passada a data, valia a pena postar.

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